Na noite de quinta-feira (17), a comunidade quilombola e a luta pela igualdade racial sofreram um golpe devastador com o assassinato da líder quilombola Bernadete Pacífico, de 72 anos, na Região Metropolitana de Salvador, na Bahia. Bernadete era muito mais do que uma líder comunitária; ela também era ialorixá, uma respeitada líder religiosa, além de ter ocupado o cargo de ex-secretária da Igualdade Racial, reforçando o seu compromisso com a promoção da justiça e da equidade. Era uma figura notável, cuja trajetória de luta e dedicação a causas sociais a tornou uma voz respeitada tanto no âmbito político quanto religioso.
Com uma história de ativismo que abrange décadas, Bernadete Pacífico deixou um impacto duradouro na luta contra o racismo estrutural e em defesa dos direitos das comunidades quilombolas. Ela também atuou como ex-secretária da Igualdade Racial, uma posição que ela abraçou com paixão e determinação, trabalhando incansavelmente para promover políticas que abordassem as disparidades raciais profundamente enraizadas.
A liderança incansável de Bernadete se estendeu por diversas esferas. Ela era a coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), uma organização que desempenha um papel crucial na defesa dos direitos das comunidades quilombolas e na luta contra a discriminação racial. Bernadete se dedicou a criar uma rede de apoio e solidariedade, unindo essas comunidades para enfrentar desafios e reivindicar os seus direitos há muito negligenciados.
Para além do seu comprometimento político, Bernadete era uma ialorixá respeitada, uma líder religiosa no candomblé, uma religião de matriz africana que mantém forte conexão com a cultura e espiritualidade ancestral. Sua liderança transcendeu as barreiras religiosas, tornando-se um exemplo inspirador de como a fé pode estar intrinsecamente ligada à justiça social e à luta por direitos humanos.
No mês de julho, Bernadete participou de um encontro significativo com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber. A reunião ocorreu na comunidade Quingoma, em Lauro de Freitas, também na Região Metropolitana de Salvador. Durante essa reunião, ela denunciou ameaças e violências contra a comunidade quilombola, expondo as dificuldades que essas comunidades enfrentam diariamente em um cenário marcado por injustiças e discriminação. Sua coragem em relatar esses desafios revela a persistência de Bernadete em desafiar o status quo e em assegurar a proteção e dignidade de sua comunidade.
Bernadete já havia passado pela dor insuportável de perder um filho, que também era um ativista quilombola. Seis anos atrás, seu filho foi assassinado, destacando ainda mais a vulnerabilidade das lideranças e comunidades que lutam por justiça e igualdade em meio a um cenário muitas vezes hostil.
No entanto, a morte trágica de Bernadete Pacífico também suscita preocupações sobre os motivos por trás desse assassinato. A natureza de seu ativismo, sua liderança e sua denúncia das ameaças podem ter atraído inimigos que se opunham à sua mensagem de igualdade e justiça. Enfrentar esses desafios pode ter resultado em confrontações perigosas, potencialmente colocando sua vida em risco. O assassinato de Bernadete Pacífico é um ataque direto não apenas à sua pessoa, mas a todo o movimento quilombola e às vozes que lutam pela igualdade racial no Brasil.
Ministros dos Direitos Humanos e Igualdade Racial já pediram uma investigação minuciosa para trazer à justiça os responsáveis por esse ato trágico. O governador também enfatizou a necessidade de uma apuração rigorosa. Enquanto as motivações exatas ainda são desconhecidas, a morte de Bernadete Pacífico destaca a contínua luta por igualdade e justiça no Brasil e a necessidade urgente de garantir a segurança das lideranças que dedicam suas vidas a essa causa. Sua memória permanecerá como um lembrete poderoso da importância de continuar essa luta em sua honra e em nome de todos aqueles que buscam um Brasil mais igualitário e inclusivo.
Neste momento sombrio, a memória de Bernadete Pacífico permanecerá como um farol de esperança e resistência para todas as comunidades quilombolas e aqueles que continuam a lutar por um Brasil mais justo e igualitário. Que sua determinação inspire ações coletivas e duradouras para criar um país onde todas as vozes sejam ouvidas e todas as vidas sejam respeitadas.