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Jamil de Obaluaie Fala de Tatá Fomotinho

Eu comecei em 1948, muito novo ainda, me iniciei com o Pai Jaú, o Sr. Euclides Barbosa, muito conhecido, que tinha o Terreiro de Umbanda em Bom Sucesso, Guarulhos/SP.

O terreiro era muito grande, tinha cerca de 300 médiuns; foi uma fase difícil, muita perseguição da polícia. Por volta de 1950, eu e o Edécio, um dos meus companheiros no barco de Tatá Fomotinho, que na época já era mais desenvolvido, fomos fazer um trabalho para uma menina de três anos que estava passando por um problema mui¬to sério. A partir daí, nós decidimos alugar um cômodo e iniciar o nosso próprio terreiro. Assim começou minha vida na Umbanda.

Em 1958, o Dr. Luiz Moura Acioli, presidente da União de Tendas de Umbanda do Estado de São Paulo (que foi quem abriu aqui na cidade de São Paulo a Tenda São Jorge, na Rua Santa Efigênia, trazendo do Rio de Janeiro o ritual de Umbanda), me pediu que fos¬se ao Rio de Janeiro levar um ofício para o Joãozinho da Goméia. Aproveitando que eu estava no Rio, Joãzinho também me pediu que fizesse a ele um favor: que fosse até Vilar dos Telles, levar uma carta dele para Tatá Fomotinho – O Sr. António Pinto.

Chegando lá, eu disse: ‘Sr. António Pinto, o Sr. João da Goméia pediu que eu lhe entregasse este ofício em mãos. Ele pegou o ofício e me con¬vidou a entrar e sentar um pouco; fazia muito calor e eu estava realmente can¬sado. Depois, ele me olhou e perguntou meu nome. Eu lhe respondi e ele começou a balançar a cabeça, mas não falou nada. Ele me perguntou: você já entrou em algum terreiro antigo? Eu respondi que não, e disse que o primei¬ro Candomblé que conheci foi o de Joãozinho da Goméia. Ele então me con¬vidou para conhecer o terreiro – a Casa de Exu, Casa de Obaluaiê, e, no Jeje, é tudo para fora, bem diferente do que eu conhecia.

Nesse mesmo dia ele me disse que faria uma Festa para Oxum e me convidou para assistir, e eu fui. Cha¬mei o Edécio e o Otávio para irem comigo, e fomos para o Rio de Janeiro.

Chegando lá, na hora do toque, os três Obaluaiês bolaram! E nós não estávamos preparados para aquilo, tínhamos ido para assistir a um ritual de Nação Jeje. Depois disso, Tatá nos recolheu e disse: “Olha, vocês é que sabem, querem voltar para São Paulo, voltem, mas eu não garanto”. Bom, nós já estávamos lá mesmo…

Naquele tempo eu tinha um comércio, uma Casa de Ferragens na Rua Teodoro Sampaio; liguei e pedi que alguém fosse até lá para avisar que eu ficaria fora, e levar algum dinheiro para manter o lugar enquanto eu estivesse no Rio. Se o Tatá acha que devemos ficar, que o Orixá está pedindo, então nós ficamos. De recolhimento, dentro do terreiro, ficamos 21 dias; fora, mais um mês; naquele tempo não tinha esse negócio de ficar só os 21 dias e já sair.

Ficando mais um mês, cumprindo os preceitos e rituais. Depois do recolhimento, Tatá Fomotinho nos trouxe de volta para São Paulo. Nessa época eu já tinha um terreiro grande em Pinheiros, e o Edécio em São Miguel Paulista; o Otávio também já tinha o seu terreiro aberto. Tatá Fomotinho fez questão de nos trazer, porque ele era o responsável. Inclusive, nos dias dos Axés e das Obrigações lá no Rio de Janeiro, o Pai Pequeno do Edécio, do Otávio e o meu, também participaram das cerimónias, porque depois seria preciso dar continuidade a isso por aqui. Então, chegamos a São Paulo em uma verdadeira comitiva: Nós três, mais os três Pais Pequenos, e Tatá Fomotinho.

A chegada dos três Vodunsis a São Paulo foi uma verdadeira festa, após esse tempo fora das nossas atividades. Depois da nossa iniciação, Tatá Fomotinho costumava vir a São Paulo todo ano para fazer os Axés; já que nós tínhamos casa aberta, era feito o assentamento e o que fosse necessário, juntamente com o Ogan José, que era o braço direito da Casa de Tatá.

Em 1966, Tatá estava em um ponto de ônibus e um veículo desgovernado subiu à calçada e acabou atropelando as pessoas que estavam ali, inclusive ele. Desse acidente ainda foi possível salvar a vida dele, mas ele acabou ficando com sequelas, porque bateu justamente com a cabeça. Ficou um tempo internado em um hospital lá no Rio, e, depois de recuperado, de vez em quando ainda vinha para São Paulo.

Na última vez em que esteve aqui, já não estava bem, e a minha esposa, na época a Laura, lhe deu toda a cobertura e assistência por aqui. Depois disso, eu, Edécio e Otávio, os três Vodunsis, o levamos de volta ao Rio de Janeiro. Lá, ele ficou na casa de Djalma de Lalu, que era muito grande e tinha toda a cobertura, tudo que ele necessitava, para não deixar o Tatá sozinho na Roça. Foi uma época em que ele começou a não passar bem, teve diversos problemas de saúde e acabou falecendo. Então nós voltamos novamente ao Rio, para acompanhar toda a sua cerimónia fúnebre.

Tatá Fomotinho foi um grande sacerdote da Nação Jêje-Mahi, que levou ao Rio em meados da década de 1930; sempre muito humilde, foi uma pessoa exemplar para todos os seus filhos-de-santo”.


Entrevista e Texto: Virgínia Rodrigues

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